Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Nas últimas décadas, parte do trabalho em volta da música oriunda de outros cantos do mundo, quando esta saiu do engodo horrível que é o termo “músicas do mundo”, tem sido de descoberta de um passado riquíssimo, que fascina ora pela distância, ora pela forma como engloba certas ideias que julgávamos que conhecíamos numa roupagem completamente diferente. Isto sem descurar como o tradicional, a cultura ou os instrumentos de cada país/região entram na conversa. A ideia aqui é que muitas vezes o processo de fascínio passa pelo que já aconteceu e que agora está a ser lembrado, seja pela descoberta da música ou pela realização de que os músicos ainda estão vivos, ainda tocam, e há uma história qualquer fascinante - para nós, os ditos ocidentais - que nos ilumina. E se o passado não fosse a base, mas o presente? Eis a proposta de Mohammad Syfkhan e a sua bouzouki.
Nasceu na Síria, vive hoje na Irlanda. A história entre uma coisa e outra é fascinante, tristíssima e cada vez mais parte do dia-a-dia destas narrativas. Syfkhan estudou para ser especialista em enfermagem médico-cirúrgica, profissão que exerceu desde inícios dos anos 1980, a meias com uma carreira musical, na banda The Al-Rabie Ban, que tocava um pouco por toda a Síria, fosse em festivais, casamentos ou outro tipo de festividades. A guerra no seu país trouxe as piores notícias, um dos filhos foi brutalmente morto pela ISIS e, com medo que isso voltasse a acontecer tão perto do coração, saiu do seu país. Parte da família foi para a Alemanha, outra para a Irlanda. É lá que está desde 2016. É por estes dois países que tem tocado desde então, primeiro em festas privadas, e depois, à medida que o mito cresceu, começou a dar concertos, abrindo até para os Lankum na Cork Opera House em 2023. A audiência, a maioria não o conhecia, adorou.
Tem colaborado com artistas como Martin Hayes, Cormac Begley, Eimear Reidy, Cathal Roche e Vincent Woods e no ano passado editou o seu primeiro álbum, I Am Kurdish, com Reidhy e Roche a colaborarem consigo e darem mais recheio ao bouzouki e à sua voz. É aqui que se chega à ideia inicial, à do música do presente, Syfkhan não se limita a criar a partir da tradição, junta elementos dos Balcãs, do psicadelismo turco e daquela visionada música do deserto do norte de África. O resultado não tem ponta de nostalgia, ou o habitual selo de festividade - embora também exista - associado a este tipo de descobertas, que parte um bocado da nossa falsa inocência de primeiro mundo. Nada disso. A dinâmica de Mohammad Syfkhan salta esses preconceitos, é carregado de visão e de dor, arrasta uma melancolia que é expressa sem saber a história dele, ou sequer de onde vem. Funciona sem entendimento da linguagem, a comunicação é sonora e contagia. E, pelo meio, celebra-se a partida, a dor, a distância como males que se superam. Nem dá para imaginar como isto mexe ao vivo. (Texto por AS).
Abertura de Portas
20:30
Preços